quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Humanidade é uma palavra com 10 letras

Impressões sobre a midseason do 2º ano de The Walking Dead

Got bit.
Fever hit.
World gone to shit.
Might as well quit.

A educação se irrefreia, a pólvora sacode e os berros dos mortos errantes soam alto. Em Walking Dead, a tensão de perambular ruas que outrora eram dominadas por carro e gente é de esfriar a espinha. A morte rasteja, é incansável e pára balas em seu peito putrefato.




Walking Dead acompanhou em sua primeira temporada um grupo de sobreviventes que saiu dos perímetros urbanos de Atlanta, Geórgia para se embrenhar numa fazenda cercada por uma grande mata. A filha de um deles está sumida e enquanto bravos homens fazem turnos para encontrá-la, tem de lidar com seus próprios demônios naquele mundo em que a esperança é um tipo de piada de mal gosto. Há gravidez indesejada, questões de moralidade, crianças baleadas,
amores impossíveis, tendências suicidas. O mundo está uma desgraça tanto no além-floresta quanto dentro dos limites campestres.

O segundo ano, que até então tem se desenvolvido no arco da fazenda, suscitou perguntas e holofoteou estereótipos que a televisão difícilmente vê diariamente. Shane diz sob uma voz rouca, cansada e irasciva que se é pra procurar segurança, já é tempo de parar com as buscas e botar abaixo o celeiro cheio de zumbis. O massacre então começa com aquele estilo western apocalíptico, marca registrada do seriado. Mas a beleza de toda uma temporada está nos segundos finais, ao presenciar Sophia esgueirando-se para fora do abrigo como uma infectada, visando unicamente alimentar-se de carne fresca, e ver Rick tomar a dianteira para disparar a bala da verdade: se seu filho se tornasse um morto-vivo, quanto lhe custaria despachá-lo para o além?

The Walking Dead é um programa sobre momentos (o zumbi no fosso, a flor dos índios Cherokee), perspectivas (o tiro de Shane contra Ottis, a noção redneck de Daryl) e valores (a integridade de Rick - a razão sobre a emoção e a política de boa vizinhnha). Acreditar que a ficção científica é um fim em si é descompreender o que as maiores mentes sobre o assunto já discorreram (Isaac Asimov, Allan Moore, Phillip K. Dick, George Orwell). A ficção é a metáfora por excelência, é contar sobre os humanos e seus mitos através das transfigurações que a imginação recebe, metamorfoseadas em formas de arte.

Se você espera de um canal como a AMC cujo mote é "Story Matters Here" um seriado sobre homens matando zumbis enquanto realizam parkour, você entendeu errado a propaganda. Se não gosta de cenas que duram 10, 20, 30 segundos sobre pessoas que dizem tudo sem dizer uma palavra (Shane após conversar com Lori), talvez THE CW fosse um canal mais condizente com o seu gosto.

The Walking Dead é poesia fantástica a 24 frames por segundo.

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