dirigido por Nicholas Winding Refn, com Ryan Gosling, Carey Mulligan e Bryan Cranston.
EUA, 2011
Há anos bato na mesma tecla a respeito do talentoso ator canadense Ryan Gosling. Enquanto todo mundo corre aos cinemas para ver o novo filme do Johnny Depp, a minha ansiedade se direciona por conta desse cara que aprendeu atuar sozinho e foi home schooled (no estrangeiro, as famílias podem ensinar aos seus filhos o conteúdo ensinado nas escolas em suas próprias casas).
E em 2010/2011 o cara deu show. Blue Valentine, Drive, Crazy Stupid Love e Ides of March são quatro pérolas atuadas por Gosling, todas reconhecidas por premiações ao redor do mundo e que me fez sentir na obrigação de escrever algo a respeito.
Drive, devidamente ovacionado em Cannes, é o conto sobre um homem viciado em adrenalina. Durante o dia trabalha como dublê, à noite é motorista de bandidos em fuga. Com seu comportamento comedido, sua blusa de cetim com um escorpião talhado nas costas uma propensão de economizar palavras, o motorista sem nome espreita à visualmente bela Los Angeles sem dizer de onde veio ou para onde vai. Por baixo de todo o arquétipo misterioso há um ser humano extremamente passional, seguro de si e habilidoso em seu ofício.
Em Drive, uma adaptação do livro de mesmo nome lançado em 2005, o dinamarquês Nicolas Winding Refn procura um ponto de equilíbrio entre narrativa e técnica. A história, aparentemente simples, se fortifica por uma estilização no mínimo tão eficiente quanto a empregada em Donnie Darko: a tentativa de situar um filme atual em padrões da época dos anos 80. O resultado é tão interessante (e até óbvio) que nenhum espectador deixará de notar o visual retrô com seu cast de neon rosa, músicas etéreas que abusam de sintetizadores e personagens mal encarados como se tirados diretamente dos filmes do Charles Bronson.
Referência, aliás, é o cerne da produção: a experiência de se assistir Drive é como desfrutar de momentos tarantinescos com uma ultra-violência vinda direta de Gaspar Noé e, por que não, das desventuras de Onde os Fracos não tem vez. É a evidência induscutível que vivemos em tempos de colagens e reaproveitamentos, em que o progresso da arte trilha se inibe em trilhar caminhos experimentais (como o recente Árvore da Vida e o concorrente à Palm d'Or do ano passado Kynodontas) e flerta cada vez mais com a reciclagem de gêneros e estilos.
Não que haja algum demérito neste tipo de abordagem em relação às mais visionárias. Nas mãos de um cineasta sem talento, Drive poderia se aproximar facilmente de filmes do Steven Seagal ou até mesmo Velozes e Furiosos. Entretanto, para a infelicidade dos adoradores de blockbuster, esta película agraciada com o Grande Prêmio do Júri na França possui seu próprio ritmo, sua própria mentalidade. Talvez pelo seu ar quase meditativo, repleto de momentos sem diálogo e slow motion, a impressão é a de observar uma pintura pós-moderna em movimento, é ter a consciência de que o motorista de Ryan Gosling e todos os malfeitores daquela fictícia L.A. são de facto apenas cinema, e na simbiose de estilo, violência gráfica e trilha sonora, somos deliciosamente arremessados para dentro do filme.
Com grande chances de ser reconhecido pelo Oscar em algumas das categorias principais (direção, atuação, produção, fotografia e trilha sonora), Drive só pode decepcionar mesmo a quem o compre como um filme de ação do verão, assim como uma mulher do estado de Michigan, EUA, que entrou com um processo contra os distribuidores desta película de Refn por achar que o que o que mais faltou foi o driving em si.
Sure, sis.
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