domingo, 26 de dezembro de 2010

A Pólvora, A Traição e o Esquema das Coisas

review sobre a primeira temporada de SONS OF ANARCHY
Cotação: *****

"Companheirismo, o quarto mito da realidade:
Conforme mudam as marés da guerra, mudam também as lealdades."

2010 foi um ano que marcou inevitavelmente meu interesse sobre seriados. Pensando paralelamente, tenho certeza de que dei mais atenção à TV do que ao Cinema nesses últimos doze meses, e se antes esse tipo de atitude eu classificaria como uma traição pessoal, hoje me considero orgulhoso por ter encontrado essa forma de arte e entretenimento.


Dito isso, com a chegada do Fall Season americano em setembro, senti como um órfão por não ter mais episódios inéditos de LOST. Ao folhear por outros títulos na esperança de aplacar minha necessidade, encontrei vários textos de qualidade no cenário nacional, como é o caso do Série Maníacos e do Séries em Série - assinado pela sempre ácida e bem humorada Camis Barbieri – sobre uma em particular: Sons of Anarchy.

Criada por Kurt Sutter e lançada no canal FX em setembro de 2008, a obra trata de um clube de motoqueiros que vive na fictícia Charming, cidadezinha do norte da Califórnia. O grupo, presidido por Clay Morrow e seu stepson Jax Teller mantém forte influência no local, espalhando sua rede de contatos nos estabelecimentos e inclusive na polícia. Por debaixo dos panos, os motoqueiros faturam com contrabando de armas, e assim conquistam aliados que possam comprar seus produtos e atraem inimigos que querem tomar seus negócios.

Até o presente momento a série conta com 3 temporadas de 13 capítulos cada, e uma renovação para o quarto ano já foi confirmada. A audiência do programa nos EUA atestou sua popularização e qualidade, dados os altos índices que cada capítulo levanta pros lados de lá.

Ontem terminei de assistir à primeira temporada do show. E admito que se estivesse diante de um tribunal, confirmaria, com a mão direita sobre a Bíblia, que Sons of Anarchy já entrou pro meu TOP 10 Séries com folga. Assim, preparei cinco motivos para que você, leitor, comece a assisti-la desde já:

1) A TV, ao contrário do Cinema, teoricamente tem mais tempo para dedicar ao desenvolvimento de seus personagens. Em Sons of Anarchy isto é imperativo: todo o clube de motoqueiros é abordado de maneira interessante durante os 13 primeiros capítulos, fazendo com que seus integrantes, suas esposas e namoradas – inclusive seus aliados e inimigos – pareçam orgânicos e multidimensionais. Jax, por exemplo, faz o típico Bad Boy protagonista numa primeira vista, mas numa questão de capítulos seu estereótipo é desconstruido tal como vimos ocorrer com Sawyer em LOST, tornando-o assim mais "humano".

2) O roteiro é brilhante. Primeiro porque não trata o espectador como um idiota, assim o exercício de assistir é desafiador e chamativo. Segundo porque é como se a história da primeira temporada tivesse sido criada inteiramente e filmada somente depois de ficar pronta, dessa maneira todos os elementos em cena ganham relevância com a progressão da narrativa.

3) Katey Segal é uma atriz de mão cheia. Sua personagem Gemma, a mulher do chefe, já faz valer a viagem. Segal foi indicada a alguns prêmios de melhor atriz pela série. Merecidíssimo.

4) Várias produções pra TV infelizmente não arriscam, seja por medo de desagradar o público, a crítica, ou simplesmente porque os escritores não sabem como fazê-lo. Em Sons of Anarchy não é o caso. Espere por cenas imprevisíveis, diálogos inteligentes e situações que transformam a narrativa de maneira irreversível.

5) Os temas que a série se propõe a tratar são bons e bem desenvolvidos. Seja a família dos motoqueiros que sempre preza a união, seja a noção de fins justificarem os meios ou, ainda, o conceito distorcido de anarquia que os membros do clube trazem consigo em suas mentes, costas e coletes.




Um verdadeiro fora-da-lei encontra o equilíbrio entre
a paixão em seu coração e a razão em sua mente. O resultado
é a combinação perfeita de força e dever.

Sons of Anarchy é uma daquelas obras "must see". Vivemos em uma época em que o Cinema está estagnado com filmes que possuem três, quatro, cinco continuações e o lucro parece mais uma força oposta à qualidade. Com a TV isso também ocorre: nos canais abertos somente aqueles shows que dão audiência sobrevivem, ou seja, a popularidade de uma obra há muito tomou para si o sinônimo de genialidade. Com sorte, algumas ainda mantém intacta o que ser “bom” realmente significa, e assim reafirmo com sem pestanejar que Sons of Anarchy é uma delas.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Does Dex have what it takes?

Review sobre o season finale de DEXTER
5.12 - The Big One

Depois de um final de período apertado, estou de volta.

Dexter chegou ao fim de mais um ano. Assim como para muitos, creio saldo ftenha sido positivo. Tivemos uma temporada equilibrada, capítulos coesos e uma trama que pretendia desembocar num season finale que faria jus ao legado de Trinity Killer e a morte de Rita.

Faria.



Infelizmente, esperei muito mais do que a conclusão ofereceu de facto. Enquanto assistia ao 12º capítulo de Dexter, pensei na dificuldade e, que os roteiristas devem ter para esticar a história, já que para fazê-lo eles tem tido receio em alterá-la. Em cinco anos de show, definitivamente a mudança mais brusca ocorrida foi durante o season finale da quarta temporada (acho que o destino de Doakes também foi impactante). Mas em relação a este último ano, tudo se convergia para que a vida de Dexter se transformasse novamente e de maneira irreversível. Quais mudanças seriam essas?

1) Lumen e Dexter como um casal. Após a morte de Jordan Chase, eles teriam que lidar com suas vidas a dois, algo que não seria nada fácil. Ela talvez ajudaria Dexter com o “lixo” de Miami, ou então não se intrometeria nos assuntos do Dark Passenger e seria uma cúmplice "passiva" de seu amante.

2) Debra flagraria o irmão e sua comparsa enquanto matavam Chase. Para o bem da série, provavelmente a boca-suja não o denunciaria, mas provavelmente teria dificuldades em se relacionar com Dexter novamente. Debra poderia ligar os pontos e entender que seu irmão foi responsável pela morte de Doakes e muitos outros, o que dificultaria ainda mais uma reconciliação entre eles.

3) Quinn saberia exatamente sobre as atividades da dupla vida de Dexter. Mesmo com as fotos e a morte de Liddy, todas as evidências são circunstanciais, mas se Quinn tivesse flagrado o Dark Passenger dentro do furgão, os rumos seriam outros.

Mesmo com todos esses problemas lançados, seria possível construir um roteiro coerente e que desencadeasse numa trama cada vez mais complexa. Contudo, depois de uma quinta temporada impecável, os 20 minutos finais soaram covardes, à deriva de um senso de ousadia. Lumen vai embora, Debra não remove o plástico que a separa dos vigilantes e Quinn abandona em definitivo sua rixa com Dexter para o bem do seu relacionamento com a garota Morgan.

Portanto, para qualquer tipo de leitura que você se incline, o sexto ano começará como se a série tivesse sofrido uma espécie de reboot. Não existem pendências ou conflitos. Há uma sensação amarga na boca de traição, de um Deus Ex Machina que sempre intervém na vida desse serial killer e que conserta seu caminho sempre que lhe é conveniente.

Isso me faz pensar sobre como seria uma conclusão de Dexter...
E sabe de uma coisa?
Tenho uma má impressão sobre esse assunto.

UPDATE: Ao ler o blog de Pablo Villaça, crítico de cinema, soube que os tais roteiristas são uma nova trupe no comando, aparentemente alocados no lugar dos responsáveis pelas quatro primeiras temporadas. E ainda de acordo com a informação de Pablo, o tal grupo também é responsável pelo roteiro de 24 Horas (que, particularmente, nunca despertou meu interesse por ter reviews cheia de altos e baixos pela Internet).

Blergh...