quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

And The Bittersweetness of Growing up and Dying


resenha sobre a segunda temporada de Skins UK

"what if I'm not ready for this?"
Diz Tony, outrora o mais confiante cara do grupo, agora completamente desesperado quanto ao seu possível futuro longe dos amigos, da escola e da cidade em que viveu por todos os seus 17 anos.

"Oh. Wow!"

Skins encerra sua segunda (e última e ótima) temporada com o mesmo grupo de jovens (a cada duas temporadas o elenco se renova completamente). Chris, Jal, Tony, Sid, Cassie, Michelle, Effy, Maxxie, Anwar e Sketch. Nomes que farão vocês se inundarem de uma saudade tão grande como se tivessem sido um dia seus amigos de verdade, mas que agora só os encontram dedilhando fotografias antigas e clicando em pastas perdidas no seu computador.

"You'll find her, Sid."

Skins trouxe o que há de melhor numa série que seu público-alvo poderia desejar: graça, brilhantismo, cumplicidade e franqueza. Como diria Chris, "Foda-se" aqueles que se sentem ofendidos com um conteúdo tão direto e incisivo apresentados nestes 19 capítulos. Depois de pouco tempo acompanhando um roteiro cujas medidas elevam à perfeição o equilíbrio entre realidade e ficção, é fácil entregar-se à lágrimas com a mais sutil mudança de expressão de Cassie ao lidar com tanto peso que a vida lhe joga, ou o olhar sincero de Tony ao reconhecer em sua plenitude o amor que sente por seu melhor amigo, Sid.

"I need answers, Cassie."

É difícil falar novamente sobre esta série sem soar redundante. Se vale de alguma coisa, existe um salto narrativo entre o primeiro e o segundo ano, e se no primeiro aprendemos a gostar de todos - repito, TODOS - os personagens do grupo, no segundo temos uma impactante reconstrução de suas personalidades face à tantos problemas que enfrentam. Assim, avaliar qual temporada é a melhor é um tolo exercício. Talvez a segunda tenha um pouco mais de excessos, principalmente enquadrando Anwar como um "vida loca" ou elevando Michelle a um pouco mais amarga que de costume, mas estes são detalhes menores frente à quantidade de boas surpresas ofertada ao longo dos novos capítulos.

E antes de encerrar aqui meus elogios rasgados por esta tremenda produção, faço uma ressalva para Cassie, a garota mais interessante de toda a série. Hannah Murray, sua intérprete (que inclusive será vista no segundo ano de Game of Thrones), é dona de um talento apenas mensurável pela força de sua expressão em cena. Cass, um amálgama entre Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Zooey Deschanel, toma o carisma de um, a loucura de outro e uma pitada de genialidade do terceiro para dar vida a esta loira sorridente que lhe fará lembrar dela para todo o sempre. Seus dois capítulos exclusivos retratam uma fragilidade circundada de charme e bons modos, potencializada por uma beleza excêntrica ao prender seu relógio de pulso no próprio pé e ao repreender Sid dando-lho um tapa na cara precedido deum beijo. Um loucura adorável. Como descrever, então, sua explicação sobre enganar as pessoas enquanto finge comer a refeição? Oh, Cass... how lovely you are.

"A slap and a kiss."

Enfim...

Em 45 minutos, um episódio de Skins faz o seu dia não parecer perdido.
Ou então assista e diga na minha cara (ou no meu blog) que eu estou errado.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Be Quiet and Drive

resenha sobre o filme Drive
dirigido por Nicholas Winding Refn, com Ryan Gosling, Carey Mulligan e Bryan Cranston.
EUA, 2011

Há anos bato na mesma tecla a respeito do talentoso ator canadense Ryan Gosling. Enquanto todo mundo corre aos cinemas para ver o novo filme do Johnny Depp, a minha ansiedade se direciona por conta desse cara que aprendeu atuar sozinho e foi home schooled (no estrangeiro, as famílias podem ensinar aos seus filhos o conteúdo ensinado nas escolas em suas próprias casas).
E em 2010/2011 o cara deu show. Blue Valentine, Drive, Crazy Stupid Love e Ides of March são quatro pérolas atuadas por Gosling, todas reconhecidas por premiações ao redor do mundo e que me fez sentir na obrigação de escrever algo a respeito.

Drive, devidamente ovacionado em Cannes, é o conto sobre um homem viciado em adrenalina. Durante o dia trabalha como dublê, à noite é motorista de bandidos em fuga. Com seu comportamento comedido, sua blusa de cetim com um escorpião talhado nas costas uma propensão de economizar palavras, o motorista sem nome espreita à visualmente bela Los Angeles sem dizer de onde veio ou para onde vai. Por baixo de todo o arquétipo misterioso há um ser humano extremamente passional, seguro de si e habilidoso em seu ofício.

Em Drive, uma adaptação do livro de mesmo nome lançado em 2005, o dinamarquês Nicolas Winding Refn procura um ponto de equilíbrio entre narrativa e técnica. A história, aparentemente simples, se fortifica por uma estilização no mínimo tão eficiente quanto a empregada em Donnie Darko: a tentativa de situar um filme atual em padrões da época dos anos 80. O resultado é tão interessante (e até óbvio) que nenhum espectador deixará de notar o visual retrô com seu cast de neon rosa, músicas etéreas que abusam de sintetizadores e personagens mal encarados como se tirados diretamente dos filmes do Charles Bronson.

Referência, aliás, é o cerne da produção: a experiência de se assistir Drive é como desfrutar de momentos tarantinescos com uma ultra-violência vinda direta de Gaspar Noé e, por que não, das desventuras de Onde os Fracos não tem vez. É a evidência induscutível que vivemos em tempos de colagens e reaproveitamentos, em que o progresso da arte trilha se inibe em trilhar caminhos experimentais (como o recente Árvore da Vida e o concorrente à Palm d'Or do ano passado Kynodontas) e flerta cada vez mais com a reciclagem de gêneros e estilos.

Não que haja algum demérito neste tipo de abordagem em relação às mais visionárias. Nas mãos de um cineasta sem talento, Drive poderia se aproximar facilmente de filmes do Steven Seagal ou até mesmo Velozes e Furiosos. Entretanto, para a infelicidade dos adoradores de blockbuster, esta película agraciada com o Grande Prêmio do Júri na França possui seu próprio ritmo, sua própria mentalidade. Talvez pelo seu ar quase meditativo, repleto de momentos sem diálogo e slow motion, a impressão é a de observar uma pintura pós-moderna em movimento, é ter a consciência de que o motorista de Ryan Gosling e todos os malfeitores daquela fictícia L.A. são de facto apenas cinema, e na simbiose de estilo, violência gráfica e trilha sonora, somos deliciosamente arremessados para dentro do filme.

Com grande chances de ser reconhecido pelo Oscar em algumas das categorias principais (direção, atuação, produção, fotografia e trilha sonora), Drive só pode decepcionar mesmo a quem o compre como um filme de ação do verão, assim como uma mulher do estado de Michigan, EUA, que entrou com um processo contra os distribuidores desta película de Refn por achar que o que o que mais faltou foi o driving em si.

Sure, sis.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Acidic Youth

Resenha sobre a primeira temporada de Skins UK.



Quando se suspende a ideia de que a vida humana é vazia e desprovida de sentido, pode-se talvez extrair um pouco de humor ou quem sabe até regozijo da própria existência.

E o seriado britânico Skins sabe bem se aproveitar disso.

Esqueça padrões, formalidades. Abra mão de estereótipos tão necessários para rasas construções de personagens. Finja que não é hipócrita por abraçar um país como o nosso que, seguindo os moldes estadunidenses, despudora-se ao mostrar a bunda da Globeleza durante o carnaval, mas se torna cúmplice da censura por repreender trivialidades como um par de seios em "obras" da Globo Filmes.

Skins e o resto da Europa ri de você e seu falso puritanismo.

Como uma série juvenil pós "marcos" como Porks e American Pie, talvez essa produção da BBC infelizmente seja taxada como uma sucessora bastarda desses exemplos por focar em adolescentes que descobrem a vida adulta enquanto colocam o mundo ao avesso. Ainda que esta seja uma leitura quase acertada aos olhos da maioria, eu protesto com demasiada vêemencia.

Skins é, sobretudo, uma leitura artística sobre as identidades.

Os pais, os filhos, os professores e todos os agentes sociais retratados no seriado disformam ou remoldam o que são por causa de "simples" ações. Centrando seus nove capítulos da primeira temporada em cada um dos personagens regulares, temos aqui casos peculiares sobre a homossexualidade, religião, relações de poder, amizade, amor e a passagem do tempo, regado a uma trilha sonora acertada e ao roteiro que efetivamente dá vida aos protagonistas.

Skins, camuflada de uma historieta sobre jovens ingleses que se drogam e pensam/fazem sexo o dia inteiro, mas é tão profunda quanto Beleza Americana e tão sacástica quanto Misfits. E, se tentei aqui livrá-los da mácula do SPOILER, ao menos devo ressaltar sobre os personagens, constuidos de um elenco até então amador, mas afiadíssimo:

Cassie, a anoréxica, deveria ser idolatrada por seu personagem jacksparrowniano e genialidade ocultadas pela máscara de uma louca.
Tony é o playboy que, apesar de todas as suas canalhices, está certo a maior parte do tempo quanto à previsibilidade das pessoas.
Sid é um estúpido e tímido que faz lembrar de épocas negras das vidas de muita gente com ingenuidade exarcebada.
Michelle é um deperdício de oxigênio por nunca se valorizar internamente e confiar só em seus peitos.
Maxxie e Anwar pagam seus momentos em cena pela coesão da dupla: o gay e o muçulmano virgem.
Chris, you son of a bitch. Você é o cara. Me lembra bastante o Goku!
Jal talvez seja a mais afetada do grupo por questões familiares. Poor Jal.
Effy me faz lembrar o porquê eu amo personagens mudos e misteriosos.

Se você não tem crianças na sala, não se auto-engana e quer suspender a depressão,
vá por mim. Baixe Skins - a primeira temporada permita-se um pouco de arte juvenil.



Skins, 9 episódios
2007
Indicada ao BAFTA por melhor drama.