quarta-feira, 30 de abril de 2008

The Shape of Things to Come

Já se passaram quatro anos desde que as coisas foram postas em movimento. O urso, a fumaça, o tubarão e as crianças não foram deixadas de fora. O avião cai e o mistério começa.

Aos olhos de muitos, LOST é uma das séries mais subestimadas de todos os tempos. As razões para esse tipo de comportamento se manifestam através - naturalmente - duma contradição interna do próprio espectador corriqueiro: guiado por comentários calorosos de fãs assíduos ou simplesmente compelido devido aos trailers chamativos, a pessoa senta em sua poltrona esperando de LOST algo que ele não pode oferecer do dia pra noite: explicações. E isso frustra e deprime o indivíduo.

Mas primeiramente, analisemos a estrutura narrativa do seriado: composta por 6 temporadas que totalizam 116 capítulos ou 90 horas aproximadamente, os realizadores de LOST tiveram/tem/terão a intenção de servir o espectador com bastante informação esotérica, filosofica, comportamental, sobrenatural, social e científica; todas elas incorporadas a partir da interpretação de um grande e poderoso elenco. E não é só: Partindo do pressuposto de que cada temporada é exibida uma vez por ano, quem optou por enveredar-se pela intrincada trama em 2005 só terá paz de espírito em 2010, quando essa mesma pessoa tiver amadurecido bruscamente (no meu caso, comecei a assistí-la com 21 e a terminarei com 25).

Mas, o que faz tantos sujeitos desvirtuarem do caminho iniciado em 2005? O que os faz desistirem dessa jornada repleta de enigmas? Pura preguiça intelectual. A desculpa mais comum para essas pessoas se embasam no pressuposto de que LOST é muito enrolado e sempre tem mais perguntas do que respostas, ou mesmo: parece que os criadores se perderam no meio de tanta complexidade. Engraçado, mas essas mesmas pessoas são aquelas que reclamaram da extensão das sagas Matrix, Star Wars ou (para os mais incompetentes e impacientes) Senhor dos Anéis. Portanto, meu contra-argumento se molda e se fortifica na alçada da impaciência e na falta de um espectador mais exigente, inteligente e que não aceite que as obras falem por si só. É como se pedissem para que os quebra-cabeças infantis se montassem sozinhos!

Para essas mesma testemunhas de pavio curto, outro grave problema é a noção de escopo. O motivo para considerarem o seriado complicado demais é a falta de perspectiva de um todo muito, mas muito maior do que puderam previr na primeira temporada. O que vimos em 2005 e em 2006 não foi nada mais do que a ponta do iceberg; as questões tomaram formas mais aprofundadas e polissêmicas, os personagens crescem com os eventos presenciados e mudam seus pontos de vista. A teia narrativa de LOST mostrou-se maior do que qualquer um podia imaginar, e só agora em 2008 estamos presenciando até onde vai seu alcance. Daí o título do ensaio: A Forma das Coisas que Estão por Vir.

O engraçado é que muita gente aceita seriados menos palatáveis como Smallville e 24 Horas, cujos roteiros e tramas visivelmente enfraqueceram conforme os anos se passam e até MESMO os próprios criadores pularam fora do projeto. E escolhi mencionar essas duas séries por causa de seus tamanhos equivalentes: Smallville está na 7ª temporada e 24 Horas terá a sua em 2009. Qual o motivo da reclamação, então?

Bem, assistir LOST não é fácil, confesso. Nas primeiras três temporadas tivemos a perspectiva do flashback; agora lidaremos com os flashfowards. Talvez, na última temporada vislumbraremos outra forma de acompanhar a série na qual jamais imaginariamos (quem é que não foi pego de jeito com a surpresa no season finale da 3º temporada?). Além disso, não é suficiente ver o capítulo da semana e voltar à sua própria rotina: LOST é uma experiência multimidiática. E preciso dedicar algum tempo para discussões online, pesquisas na internet ou bate-papos esporádicos para solucionar os enigmas mais difíceis. Para os fãs hardcore, a aventura aprofunda-se na medida em que jogos paralelos e fragmentos de vídeos são lançados na rede. Até mesmo as entrevistas com os criadores podem conter informações úteis. Ler sobre religião, ciência e filosofia nunca foi tão importante.

Agora, se você acha que em 2008 os materiais não deviam conter informações extra-diegéticas e que a obra perde todo o seu valor ao ramificar sua essência em diversos tipos de mídia, não embarque nessa jornada. Se você acredita que solucionar problemas é algo extremamente fatigante, não perca seu tempo. Se você tem a concepção de que LOST é algo puramente comercial e as "respostas" não são dadas com o único propósito da série estender-se, não se atenha diante do PC ou do televisor.

LOST não foi feito pra você.

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